Quando o assunto é crédito, os bancos e os pequenos empresários brasileiros tradicionalmente não se misturam. Este ano, essa cisão está ainda mais evidente. Apenas 17% dos empreendedores recorreram ao sistema financeiro em busca de financiamento no primeiro semestre de 2016.
Em volume de tomadores de empréstimo, a queda é de quase 30% na comparação com 2015. Os dados fazem parte de uma pesquisa que será divulgada hoje pelo Sebrae e pelo Banco Central, realizada com cerca de 7 mil microempreendedores individuais (MEIs), micro e pequenas empresas em todo o Brasil.
Segundo o levantamento, a maioria dos empresários nem considera bater na porta dos bancos quando sentem a necessidade de dinheiro extra para, por exemplo, engrossar o capital de giro. Na primeira parte de 2016, foi isso o que motivou metade dos pedidos de crédito direcionados às instituições financeiras.
As taxas de juros cobradas, em média de 4,5% ao mês, e a falta de garantias para oferecer como contrapartidas aos empréstimos são os pontos que mais afugentam os empresários dos bancos.
Dos que procuraram as instituições, 27% tiveram o empréstimo negado – as recusas de empréstimos pelos bancos cresceram 59% na comparação com o mesmo período de 2015.
Para o presidente do Sebrae Guilherme Afif Domingos, o resultado reflete a crise, mas não se explica apenas por isso. "Mais do que conjuntural, o mercado tem uma falha estrutural. O banco ainda não é uma alternativa viável para o pequeno empresário", diz. "Enquanto os Estados Unidos têm um infinidade de bancos, no Brasil cinco instituições concentram 80% das operações", destaca. Segundo o banco central dos Estados Unidos, existem 5.340 bancos no pais.
Ciclo maior.
Sem contar com o banco, o empresário acaba recorre a fontes alternativas de financiamento. Segundo a pesquisa, no primeiro semestre de 2016, 52% dos empreendedores negociaram prorrogações de prazos de pagamento junto a fornecedores e 27% utilizaram cheques pré-datados.
Na opinião de Afif Domingos, as práticas estendem a dificuldade de caixa para toda a cadeia envolvida com as pequenas empresas. "Ao vender com prazo maior, o fornecedor também se endivida", afirma.
Pessoal.
A pesquisa também mostra que o número de financiamento concedidos às pessoas físicas cresceu de 23% para 35%. Segundo o levantamento, a maior parte dos pequenos empresários acha mais fácil pedir financiamento no seu banco de relacionamento pessoal, mesmo tendo que pagar taxas de juro superiores.
Foi o que aconteceu com Newton Marchioni, dono de uma distribuidora de alimentos congelados em São Paulo. No começo do ano, ele procurou os bancos para levantar R$ 40 mil a ser investido na expansão da empresa. Não conseguiu.
"Ouvi que não tenho perfil para a captação porque meu faturamento de R$ 60 mil por ano é baixo" diz. Para não perder a oportunidade, ele pegou o dinheiro como pessoa física. "Estou pagando uma taxa muito maior e vou demorar mais tempo para conseguir quitar o empréstimo, mas não tinha alternativa", diz Marchioni. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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