O IABr elaborou trabalho conjunto com o Mdic, e as duas entidades preparam as estratégias e prioridades que serão levadas regionalmente à OCDE pela Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), na próxima reunião da organização, prevista para os dias 5 e 6 de junho. “Nós vamos acampar na OCDE”, garantiu Lopes (DCI – Diário do Comércio e Indústria – 28 de abril de 2014).
Começa a surgir uma luz no que seria o que se convencionou tratar por “Guerra dos Portos”. Segundo o ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho em sua delação premiada para a Operação Lava-Jato do Ministério Público Federal a empreiteira teria pago propina para a aprovação do Projeto de Resolução – PRS nº 72, de 23 de dezembro de 2010 do Senado Federal. Realmente há notícias de movimentações do ex-presidente Marcelo Bahia Odebrecht para tratar de assuntos inerentes à Guerra dos Portos com a ex-presidente Dilma Rousseff, mas, há sempre, em todas as matérias pesquisadas, a presença de um importante executivo do setor siderúrgico, cuja representação institucional é feita pelo IABr – Instituto Aço Brasil. Até onde há convergência de interesses? O aço é o principal insumo utilizado nas obras da Odebrecht!
Nenhum setor comemorou tanto a Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 do Senado Federal, como o setor siderúrgico brasileiro, que ganhou uma “reserva de mercado” na tradicional Guerra Fiscal. Uma pesquisa rápida pela internet demonstra que os demais setores da economia brasileira somente tiveram problemas.
Não há dúvida de que a Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 do Senado Federal padece de sérios vícios de iniciativa, na medida em que comprada, como bem disse Paulo Okamotto para a “Veja”:
Qual a empresa no Brasil que não tem nenhuma relação com o governo. Me indique uma que o governo de uma forma ou de outra não tenha relação, ou para fazer alguma legislação ou para usar um financiamento”.A tradicional “Guerra Fiscal”, praticada pelos Estados consiste na concessão do benefício conhecido como “crédito presumido” que não é fiscal, mas, financeiro e para qualquer produto, importado ou não. Funciona da seguinte forma: havendo uma operação com mercadoria cuja incidência seja de 12% (doze por cento), presume-se que a empresa é credora do Estado em 10% (dez por cento), então a empresa destacará 12% (doze por cento) na nota fiscal eletrônica e efetivamente recolherá ao Estado o resultado econômico da aplicação de 2% (dois por cento) sobre a base de cálculo, por ser credora do Estado em 10% (dez por cento), não sendo privilégio de Estados portuários, mas, prática recorrente de todos os Estados-membros.
O setor siderúrgico supostamente criou a expressão “Guerra dos Portos” que, na prática não existe, mas, deriva da tradicional “Guerra Fiscal”. Havendo o desembaraço aduaneiro o Estado concede o diferimento, que não é benefício fiscal, mas, postergação da incidência para a etapa posterior, de comercialização onde não haverá crédito a ser abatido na operação subsequente, portanto, a mesma prática que ocorre com o produto nacional em todos os Estados da federação.
“Não posso aceitar que os importados paguem menos impostos do que os produtos fabricados no Brasil” disse Jorge Gerdau Johannpeter em diversas vezes. Fato que o projeto de resolução nº 72/2010 que estava parado no Senado ganhou um grande impulso quando o setor siderúrgico o adotou, sendo então rapidamente criada a Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 que determina que o produto importado destaque 4% (quatro por cento) a título de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços na primeira operação, então, se houver benefício fiscal este ficará limitado a 2% (dois por cento).
Trata-se de prática protecionista como forma de impedir que o aço importado concorra com o aço importado na conhecida “Guerra Fiscal”, tornando o produto nacional o único capaz de gozar de benefícios do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços concedidos pelos Estados, uma vez que a siderúrgica brasileira ao emitir uma nota fiscal destaca 12% (doze por cento) na nota fiscal e recolhe efetivamente 2% (dois por cento) ao Estado, enquanto o aço importado, no ato de remessa pelo importador exige a inconstitucional Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 que destaque 4% (quatro por cento), então, também recolhe 2% (dois por cento).
A resolução teve rápida tramitação no Senado Federal, atropelando princípios constitucionais e da OMC – Organização Mundial do Comércio, graças ao sempre disponível resolvedor, líder de qualquer governo, Senador Romero Jucá, fundamentada em matéria patrocinada pelo IABr – Instituto Aço Brasil no jornal Valor Econômico:
Em total desrespeito às regras acima mencionadas, alguns Estados vêm concedendo benefícios às importações sem amparo no Convênio de que trata a referida Lei Complementar nº 24,1975.
Segundo matéria publicada no ‘Valor Econômico’ de 14/10/2010:
– Um levantamento encomendado pelo Instituto Aço Brasil (IABr) mostra que 13 Estados – SC, PR, GO, PE, TO, CE, PI, RJ, MS, MA, SE, BA e ES – oferecem benefícios fiscais para importações sem autorização do Confaz.
Os incentivos vão desde postergação e reduções de base de cálculo do ICMS até o financiamento para pagamento do tributo. Na prática, os benefícios resultam em redução do imposto devido.
Então, empresas instaladas no norte, nordeste e centro-oeste importavam aços do exterior que, na entrada no respectivo Estado tinham o diferimento do imposto, o que não é benefício fiscal, mas, postergação da incidência para o momento de saída, onde tinham créditos presumidos do imposto, destacando em suas respectivas notas fiscais o percentual da alíquota interestadual de 12% (doze por cento) e recolhendo 2% (dois por cento) aos respectivos Estados.
Ao patrocinarem a Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 que estabeleceu a alíquota de 4% (quatro por cento) na primeira de saída, o setor siderúrgico destruiu a margem do aço importado, acabando com a “Guerra Fiscal” neste setor. Ao estabelecer tal exigência os Estados que também concedem benefícios fiscais, estão propiciando o domínio do mercado pelas siderúrgicas ali instaladas, como bem colocou Arthur Gianetti para a agência Estado de 02 de julho de 2012:
Gianetti: Siderúrgicas devem seguir exemplo da Guerra dos Portos para lutar por competitividade
As empresas siderúrgicas brasileiras têm que utilizar como exemplo a vitória do setor na “Guerra dos Portos”, com a aprovação da Resolução 72, para brigarem de forma organizada e conjunta em relação a outros fatores que prejudicam a competitividade do setor, segundo afirmou, há pouco, o economista Eduardo Gianetti, durante palestra no Congresso Brasileiro do Aço.
Segundo Gianetti, o sucesso daquela empreitada mostrou que um movimento conjunto das empresas pode gerar força a favor do setor. “O setor precisa fazer como na Guerra dos Portos e agir de forma conjunta. É necessário agir de acordo com os interesses comuns de forma organizada”, afirmou. Para ele, o setor deveria começar brigando a favor da desoneração da folha salarial, fator que também retira competitividade, segundo ele.
O economista afirmou que a indústria de transformação brasileira tem passado por dificuldades desde o ano passado, situação que tem piorado com a forte entrada de produtos importados no mercado brasileiro. O especialista citou o forte encargo tributário no setor. “Os impostos correspondem a 40% do custo do produto final”, disse.
O presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil (IABr) e diretor superintendente da Votorantim Siderurgia, Albano Chagas Vieira, destacou que um dos principais problemas do setor hoje é a tributação no custo de capital no Brasil. Segundo ele, para uma planta de aço greenfield no Brasil, o investimento (capex) por tonelada é de US$ 1,8 mil, enquanto na China é de US$ 550 e na Índia de US$ 1 mil. “Essa é uma diferença difícil de se transpor”, afirmou.
Ato contínuo, Estados como Minas Gerais, para fechar o círculo e impedir benefícios ao aço importado passam a exigir “na entrada” o diferencial entre a alíquota de 4% (quatro por cento) e a alíquota interna de 18% (dezoito por cento), por meio de decreto autônomo, uma forma de driblar a vedação exposta no artigo 150, II, “b” da Constituição Federal de 1988:
Art. 524 O destinatário de produto de ferro ou aço importado do exterior inscrito no Cadastro de Contribuintes do ICMS deste Estado deverá recolher, até o momento da entrada da mercadoria em território mineiro decorrente de operação interestadual, o valor resultante da aplicação do percentual relativo à diferença entre a alíquota interna e a interestadual sobre o valor da operação, a título de antecipação do imposto, no prazo a que se refere o § 12 do art. 85 deste Regulamento (efeitos a partir de 23 de novembro de 2013 – Decreto nº 46.350, de 21 de novembro de 2013).
Os cartéis responsáveis pelo atraso brasileiro uma vez inviabilizarem as cadeias seguintes fazem com que o Estado passe a desempenhar funções totalmente incompatíveis com a Constituição, trazendo fragilidade ao mercado e fazendo nascer verdadeira insegurança jurídica nas instituições, onde, como se vê, a Resolução nº 13, de 25 de abril de 2012 é casuísta e estabelece diferença tributária entre bens e serviços, norma totalmente incompatível com o art. 152 da Constituição Federal:
Art. 152 É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.
O tratamento igualitário de mercadorias importadas com as nacionais pressupõe, para que não haja desfavor em relação a estas, que o ICMS seja recolhido no momento da aquisição das mercadorias, tal como ocorre com as nacionais (STJ – Superior Tribunal de Justiça – REsp nº 54.905/SP – Primeira Turma – Relator: Ministro César Asfor Rocha – 05/12/1994).
Trata-se de Princípio Constitucional segundo o qual é vedado aos entes federativos estabelecer diferença tributaria entre bens e serviços de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino, portanto, ao fixar o percentual do tributo, a entidade tributante está impedida de levar em consideração a origem ou o destino do bem, sendo esta a lição de Paulo de Barros Carvalho:
As pessoas tributantes estão impedidas de graduar seus tributos, levando em conta a região de origem dos bens ou o local para onde se destinam (Carvalho, Paulo de Barros – Curso de Direito Tributário – Saraiva – São Paulo – 2010).
Procedência e destino são índices inidôneos para a graduação de alíquotas e de base de cálculo pelos legisladores dos entes federados e sair dessa proibição é resvalar para o campo da inconstitucionalidade.
Por Rinaldo Maciel de Freitas
Fonte: tributario.com.br