Para começar, quando falamos em sustentabilidade nas empresas não falamos apenas da parte ambiental. Isso porque para algo ser sustentável, tem de ser em todos os aspectos: social, ambiental e financeiro. Não pode isolar apenas um aspecto — diz o professor e pesquisador da Univali Alexandre de Ávila, doutor em engenharia de produção e consultor na área de sustentabilidade.
Ávila afirma que as empresas brasileiras começaram a se preocupar com a questão por conta da exportação, no final da década de 1980. Como os consumidores de países desenvolvidos não viam só preço, mas valor do produto — como é produzido, com que impacto — as empresas brasileiras precisaram se adequar a esse consumidor. Da mesma forma, os fornecedores também precisaram se adaptar, gerando um efeito dominó positivo no ambiente de negócios do país.
A seguir, nos anos 1990, outro movimento do mercado se somou a esse processo: a entrada das empresas na bolsa de valores. A instituição passou a vincular uma maior rentabilidade das ações de empresas com práticas sustentáveis. Mais tarde, a BM&F Bovespa criou o índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), reforçando a tendência.
— Uma empresa que não tem práticas sustentáveis tem maior risco de quebrar. É o caso da Samarco, por exemplo, que não prestou atenção a uma questão básica de gerenciamento de risco em suas barragens — afirma Ávila.
A sustentabilidade é fundamental inclusive para que as companhias lucrem mais, já que poluir menos acaba visto como sinônimo de ser mais eficiente. A lógica é simples: quanto menos recursos são usados para produzir um mesmo produto, mais eficiente é sua produção, ou seja, faz-se mais com menos. Apesar de todas as vantagens, há uma grande quantidade de empresas que não se preocupa com a questão.
— Muitos empresários não vinculam a sustentabilidade à sobrevivência do negócio. Porém, o entendimento moderno, é que as empresas não foram criadas simplesmente para dar lucro ao dono, mas para beneficiar a sociedade — afirma o pesquisador da Univali.
Essa concepção é confirmada pelo gerente de desenvolvimento ambiental da Fundação de Meio Ambiente (Fatma) em Criciúma, Filipe Barchinski. Em uma região que concentra empresas de mineração o investimento em sustentabilidade, especialmente no seu aspecto ambiental, é visto muitas vezes como gasto, não como investimento.
— A percepção que temos é que hoje as empresas se preocupam mais do que antes. Mas ainda há muitos empresários que encaram a sustentabilidade como um gasto desnecessário — diz Barchinski.
A professora Lucila Campos, do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC, alerta que, de modo geral, um dos problemas é quando a empresa buscasustentabilidade e quer resultados a curto prazo. Outra questão é a empresa não saber quais pontos atacar.
— É preciso procurar especialistas na área, conhecer as potencialidades de cada empresa — aconselha.
Outro ponto importante é não pensar na visibilidade da mídia como o objetivo final do investimento. A imagem deve ser consequência de um trabalho sólido feito ao longo do tempo, caso contrário, pode-se cair na armadilha que a especialista chama de greenwashing, quando a empresa faz uma maquiagem para se passar por sustentável.
Fonte: dc.clicrbs.com.br