Na última semana foi realizado, em São Paulo, o seminário “Brasil-Portugal – A inovação e o empreendedorismo como ferramentas de inovação”, com o apoio do consulado de Portugal. Nele foram apresentados resultados que refletem alguns dos nossos maiores problemas na manutenção de uma cultura empreendedora, que traga competitividade às empresas, notadamente às micro e às pequenas, mais de 90% dos empreendimentos nacionais.
Para facilitar o entendimento dos dados, é necessário, em primeiro lugar, classificar os empreendedores em duas categorias: os empreendedores iniciais – que compreendem osnascentes, que participam de um negócio do qual são proprietários, mas que ainda não os remunerou por mais três meses sucessivos, e os novos, que já os remunera há mais de três e há menos de 42 meses – e os estabelecidos, proprietários de um negócio que os remunera há pelo menos 3,5 anos. As taxas de empreendedorismo apresentadas foram calculadas considerando a amostra formada por indivíduos adultos, com mais de 18 anos e menos de 64.
Em 2015, a taxa total de empreendedorismo no Brasil foi de 39,3%. Assim, mais de 52 milhões de brasileiros envolveram-se com a criação ou com a manutenção de algum tipo de negócio. Por outro lado, a Taxa de Empreendedorismo Inicial chegou a 21%, bastante elevada, se comparada aos 17,2%, de 2014. Neste segmento, os nascentes representaram uma expressiva contribuição, muito mais pela necessidade do que pela oportunidade, em virtude do aumento dos índices de desemprego e das constantes mudanças no mercado de trabalho.
Quando comparadas com outras nações, a nossa taxa de novos empreendimentos, que anda pelos 15%, foi maior do que a de países como Estados Unidos, de 12%, de Portugal, de 8% e do Reino Unido, de 7%. Entretanto, o percentual de empresas efetivamente inovadoras foi muito menor em nosso país, 1,6%, pois nos Estados Unidos chegaram a 5,5%, na Inglaterra a 3,8%, em Portugal a 2,4%.
Embora a capacidade empreendedora, a criatividade e a resiliência sejam características positivas do povo brasileiro, os índices mencionados ainda são baixos. Em primeiro lugar, pelo excesso de burocracia para a abertura de empresas, pela alta carga tributária e complexidade da legislação, que oneram os custos de operação e diminuem a competitividade dos negócios. Também é preciso considerar as dificuldades no crédito, o alto custo do capital e a inexistência de formas alternativas de financiamento, com pouquíssimos “investidores anjo”, que aplicam seus capitais próprios ou a sua expertise, quando identificam empresas inovadoras com alto potencial de crescimento (conhecidas como “startups”), além da baixa prioridade para o comércio exterior, o que deverá mudar.
Em segundo lugar, a má qualidade da educação, notadamente a educação básica e técnica, que não formam para o mundo do trabalho e não enfatizam a cultura do empreendedorismo. A competitividade é função do empreendedorismo, inovação e conhecimento e, assim, pesquisa, desenvolvimento e transferência de conhecimentos e tecnologia são determinantes para empresas inovadoras adquirirem sustentabilidade e condições para participar do comércio internacional.
As relações universidade-empresa continuam precárias em nosso país, porque muitas universidades enfrentam obstáculos financeiros para a manutenção das incubadoras e parques tecnológicos, e cabe a elas assegurar o funcionamento da infraestrutura laboratorial e das centrais analíticas, indutoras da capacidade de inovação das empresas. Apesar disso, muito vem sendo realizado, em parte pelo apoio do SEBRAE e das Federações das Indústrias e, em parte, pela persistência de algumas das nossas mais importantes universidades.
Em resumo, há muito a fazer, e tudo depende de uma nova política econômica e do entendimento claro da importância das universidades e institutos de pesquisa.
Por Paulo Alcantara Gomes
Fonte: noblat.oglobo.globo.com